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Teu Perdão
Condenas-te à vida
Pobre alma sem perdão – teu próprio não terás
Leva à boca, falsas palavras, teu veneno – tua maçã
Enterra-te ou teu corpo (vivo) perecerá.
Perdes em ti
Que ilusões desejosas mais, poderiam mascarar-te?
Meu pecado, tua culpa,
Nos prendem aqui.
Não é seu epitáfio, nem seu testamento
Nem as flores postas no caixão
Tua vida – a cada batimento,
Sufoca o simplório espelho encoberto do teu coração
Em uma noite como esta – azul em sua arte
Enquanto caíam cometas azuis em toda parte,
Não mataste a meu pai, nem a mim
Mas a teu coração – e a teu coração enganaste
Já que o som dos cometas abafavam
O som dos tiros que sua alma descarregaste
(- Na minha!)
Em ti, correrá minha memória
Pois condenei-te à vida
Em teu sangue correrá esta história
Meu pecado, tua culpa
Te prendem, e não poderás fugir
Pois este é teu presente
E por ele, suporta a ti mesmo,
Com os sussurros do meu perdão...
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Somos Todos Sonhadores
Ele morreu.
Ele morreu por um sonho.
Ele morreu por seu sonho.
Ele morreu por nossos sonhos.
E aqui estamos, entre espinhos
Porque nos permitimos morrer
Por sonhos corrompidos
"Triste e justificável Natureza Humana."
Mas ainda são sonhos.
E sonhos foram feitos para serem sonhados
Tiramos das caixas do sótão,
Onde eles ficam guardados?
Alguém, por favor faça alguma coisa
Antes que os fins justifiquem os meios
Antes que os meios ponham fins
No que poderia ser um começo...
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A Parada Do Festival Das Flores
Gira em amarelo fraco
É a luz do abajur
Escuro quarto
Intensidade – sobra falta assopra luz
E nós damos nomes às cores
E nós damos sentimentos às cores
No quarto escuro
Gira amarela fraca
Caminham pequenos grandes pensadores
Ingênuos, iludidos como em uma avenida
Dançam, batem tambores, protestam a vida
Para a chuva que vai cair
Não lá fora, mas aqui
Não são as lágrimas das moças
Elas também estão na parada
Encerrando o festival das flores
Com guarda-chuvas e girassóis
Em um abajur de amarelo fraco.
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Jardim de Promessas
A cada lágrima uma nova promessa
outra promessa
outra lágrima.
Eu não quero quebrar essa promessa
Eu não quero derrubar essa lágrima.
Eu não quero quebrar nenhuma promessa.
Mas só nasce outra
quando morre uma...
Faltam flores no seu jardim
Mas é só um jardim de promessas
E em jardins de promessas
não desabrocham flores...
Essa é só uma máscara para o meu medo
E eu não espero que entenda
Mas permita-me plantar uma ou duas flores
no seu jardim...
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Apenas Palavras
Você me lembra um dia de chuva.
Transmonta a dor em lágrimas
Sorriso aberto às lástimas
Mas saiba, que eu gosto de chuva.
Teu pior defeito é criticar teus defeitos
Não precisas calcar teu coração
Não existe um sonho perfeito
Que não possa ser tingido com fulva emoção.
Mas são apenas palavras.
Esqueça.
O que o mundo fez a nós?
E suspiras que está cinza há tanto tempo... mas
Está cinza a mais tempo do que poderíamos lembrar.
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Estrela de Marfim
Deleito-me ao teu latim
Que trazes conforto à minha tristeza
Tristeza que dorme em mim
Tristeza que sabe que é tristeza. Mas sorri
Estrela de marfim
Permita-me fazer um pedido
Mesmo que pedi-lo já o seja
Responda à minha tristeza
Responda com carinho
Ela sabe que é tristeza, mas sorri
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Noite
Já não bastas escolher
Faze-me pensar
Mas não sei o que dizer
E não quero perguntar
Perdoe-me Noite – tal ousadia
Vossas lágrimas também são minhas
E a mesma estranha agonia
Até nosso despertar.
Por que se cala o tempo?
As palavras fogem ao vento
Dói-me dizer que não sei o que dizer
E sinto queimar por dentro
Vossas palavras mudas querendo gritar
O que eu não entendo
O que comprime este momento
São as vozes das rosas
Que gritam minh’alma, mas não conseguem falar
Noite que olha por mim
Não podes responder-me o que não sei perguntar
Perguntá-lo-ia e mesmo assim não me diria
Como queres me confortar?
Triste noite que fecha-me os olhos
Com falsa alegria não posso os fechar
Deixa-me contemplando teus olhos tristes a chorar
Pois o conforto dos meus olhos também tristes
É carregar teu pranto nestes olhos que não podem mais fechar...
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Convosco
Tens o que és
Estupefata noite gélida
Por que deixar correr a água tão depressa?
O vento não lhe é gentil
Então adoça a água da sua caixa de música
E deixes dançar a bailarina.
Pois sabes que és convosco
E convosco só
Enquanto dança a bailarina
Na sua caixinha de dó.
Sinto em ser-tes
E ser-tes sentes, és
Se tem sangue na água
Abandonas a sutil bailarina e a mata
Sua cantaiola deságua, (mas não te salvarás, não te ti)
E desabrocha em cada gota, tuas rosas cinzas,
Aos passos da bailarina,
Tens o que és...
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Vaso de Vidro
Folhas. Elas respondem ao vento
Envia-te os cumprimentos do meu gélido beijo
Elas compartilham os dizeres de meus gestos
Gravam as memórias esquecidas – não entendo...
Esquecemos de viver
E, em minha existência
Enquanto sangro cristal,
Onde está meu vaso de vidro
Forma-se a imagem da minha essência
As rosas não morreram
As rosas não morreram
O que me dizes agora?
Sinto muito, sangram meus olhos
Sinto muito, meu vaso de vidro quebrou
Sinto muito, mas, não me permite ver onde estou
As rosas não morreram
As rosas não morreram
Não me deixe ir embora
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Mentiras Doces
Tão doce. Tão leve
Como uma mentira suave
Mas seus olhos cantam, é tão doce
Ó manhã! Não permita que acabe.
Escorre lisa como um pássaro
E passa por meu pescoço como uma corda,
Que eu beijo, esqueço
E me afogo.
Eles estão pintando o céu para você
E está chovendo forte
São gotas de tinta púrpura em nossas cabeças
Eles estão secando o mar para você
Eu não tenho a mesma sorte
São apenas gotas de tinta púrpura sob nossas cabeças
As ruas estão, hoje, lacrimosas
As ruas estão, hoje, silenciosas
Só sua voz ecoa em mim
Nem o sol trás sentido ao nosso fim.
Escorre lisa como um pássaro
E passa por meu pescoço como uma corda
Porque suas mentiras doces
Sedimentam as estrofes dessa história...
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Ah! Se um barco tivesse!
Velejaria a oeste
Onde o Sol descansa
E o horizonte dança.
Estaria eu fugindo?
Ah! Se um barco tivesse!
Sentiria-me completo
Viveria a céu aberto
Velejaria a oeste
Estaria eu fugindo?
Ah! Se um barco tivesse!
Estaria eu fugindo?
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Raposas das Rosas
Correm nos verdes campos
As raposas das rosas
Cobrem como um manto
Os campos que já foram campos de tristes batalhas gloriosas
Chorem por nós
Têm piedade desta alma
Têm medo desta cobra
Que honra enterrada a nós
Correm na densa floresta
As raposas – com rosas
Para àqueles a quem a morte empresta
Onde o espírito cansado desperta
Cheirando à rosa